Festival Santa Cruz de Cinema

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Mais uma vez, com temas importantes e repletos de reflexões, a terceira noite do Festival Santa Cruz de Cinema trouxe para tela mais seis exibições concorrentes na Mostra Competitiva Nacional. Nesta noite, os filmes apresentados foram: Aulas que matei (direção de Amanda Devulsky e Pedro B. Garcia); Libertai (direção de Bill Szilagyi); Lembra (direção de Leonardo Martinelli); Nova Iorque (direção de Leo Tabosa); Êles (direção de Roberto Burd) e Mulher LTDA (direção de Taísa Ennes).  Abordando questões como desigualdades, classes sociais, política e machismo, a sessão foi tomada por análises e questionamentos acerca das obras apresentadas.

Considerado pela diretora, Taísa Ennes, como um filme de múltiplas interpretações, além de conter uma sátira ao olhar da mulher em estado de vulnerabilidade como hÁbito, o filme Mulher LTDA chamou a atenção dos espectadores por apresentar uma mensagem forte e, ao mesmo tempo o humor. A sinopse do filme é breve: “dois cientistas malucos inventam um plano para ajudar todos os homens da terra”. Em um primeiro momento, a metáfora é simples, mas ao longo da exibição a percepção é nítida, o machismo e a desigualdade entre homens e mulheres ainda persiste.

Nesse sentido, Taísa explica o objetivo de criar a Mulher LTDA. “No final do filme a gente fica com a imagem da mulher. E a primeira vez que tu fica sozinha com ela tu percebe, na verdade, que o ponto de vista é dela, estávamos rindo dos caras, mas, é ela que queremos mostrar. A intenção do filme era deixar desconfortável – é tu levantar e pensar ‘nossa isso acontece’, a gente é essa pessoa na caixa, somos essas mulheres na caixinha que não se comunicam umas com as outras, nos colocamos em uma vitrine para os homens -, esse é o desconforto que gostaria que as pessoas vissem, não só que os homens se sentissem desconfortáveis, mas que a gente entendesse que está servindo um papel dentro um roteiro, de uma cadeia que não foi pensada para nós, mas sim para nos expor.”

Taísa Ennes, diretora do “Mulher LTDA”

Uma das falas da diretora durante o debate realizado após as exibições foi sobre medos. Dessa forma, Taísa destaca que começou a escrever sobre seus medos por conta do gênero terror, mas também, pela percepção de seus próprios sonhos. “Eu tinha sonhos muito violentos, e, por que eu tenho sonhos tão violentos?! É porque cada vez que eu passo por um homem na rua, penso – será que vou ter que me defender? -, tenho medo que um homem use meu corpo como se eu não estivesse aqui dentro, como se eu não pudesse revidar, como se não fosse meu. Então, quis fazer um filme sobre o medo de que meu corpo não fosse considerado meu”.

Outra compreensão importante gira em torno das questões políticas, as quais, Taísa expõe que atualmente por se ter um discurso polarizado força-se a ser mais enérgico na fala. “Isso gera mais raiva, não raiva, mas, mais ódio e exclusão. Dessa maneira, as mulheres acabam sendo mais oprimidas, porque agora o homem se acha no direito de ter uma arma em casa. Um relacionamento de um homem e uma mulher dentro de um casamento que não é sadio, de uma mulher que é ameaçada, comprar uma arma escondida e correr o risco do agressor dela encontrar, o que não pode acontecer a partir disso?! Então, não é igual. As mulheres estão em uma condição muito inferior em termos de autodefesa e de sobrevivência mesmo.”, conclui.

Nesta quinta-feira, 24 de outubro, será a última noite de exibições da Mostra Competitiva Nacional. Os filmes apresentados serão: Amor aos vinte anos (SP); Magalhães (SP); Riscados pela memória (DF); Vigia (RJ); Endotermia (RS) e Budapest_v4_FINAL2 (RS).